29 de janeiro de 2013

Santa Maria - 27.01.2013

É triste começar o ano com uma notícia tão triste quanto essa...

Como a maioria já deve saber, na madrugada de sábado para domingo aconteceu uma das maiores tragédias do país, na boate Kiss, em Santa Maria(RS), onde estava acontecendo um show da banda Gurizada Fandangueira.

Como era de costume, e não era segredo pra ninguém, eles iniciaram um show pirotécnico com sinalizadores, sem saber (podendo imaginar) que o teto era feito de um material extremamente inflamável.

Mais de 230 jovens morreram e mais de 100 ainda estão internados, a maioria em estado grave.

Esse caso está gerando uma repercursão imensa em todo o Brasil, e para tentar dar alguma satisfação à familia, as autoridades locais tentaram encontrar culpados, prendendo dois integrantes da banda e dois sócios da boate.

Em uma conversa aqui em casa, algumas perguntas foram levantadas. 'Porque prenderam dois integrantes da banda?' foi uma delas.

A boate estava com super-lotação. Mais de 1,500 pessoas, pelo que foi informado, num lugar que seria capaz de abrigar até 700. O local apresentava apenas uma porta para entrada e saída das pessoas. Sem porta de emergência, sem sinalização alguma. Isso seria sulficiente para 1,500 pessoas? E para 700, que seria o limite suportado no local? A resposta é muito simples e qualquer um pode saber. Não!

Os organizadores da boate certamente sabiam do show pirotécnico tradicional da banda, porque não os alertaram sobre o teto baixo e inflamável? Porque deixaram os rapazes acenderem o sinalizados tendo plena certeza de que o acidente poderia acontecer? Mais perguntas.

O alvará da boate, que permite o seu funcionamento estava vencido. Mas, como uma prefeitura concede um alvará a um local fechado que não possui uma brigada de incêndio ou uma mísera porta de emergência?

Aí eu te pergunto, o erro foi de quem?

Como discutido no programa da Fátima Bernardes (sim, eu assisto, e curto, ok? rs), quando o seu passaporte está a 6 meses de vencer, você não pode viajar (veja bem, ele não está vencido, ainda faltam 6 meses para o seu vencimento), e é permitido que se espere que um alvará vença, para então pedir a renovação, e ele ser aprovado. Uns 3 meses até esse último passo. Ou seja, o local poderia funcionar normalmente com o alvará vencido.

Alguns sobreviventes informaram que ao tentarem sair, os seguranças impediram a passagem alegando que eles deveriam pagar suas comandas antes de deixar o local. Negligência? Indiferença? Não sei. Provavelmente não por parte de todos, mas alguma coisa estava errada.

Alvará que não deveria ser dado. O mesmo vencido. Casa sem saída de emergência. Sem brigada de incêndio. Superlotação. Materiais altamente inflamáveis. Show pirotécnico. Falta de informação/orientação. Uma sucessão de erros que resultou no desastre que todos viram.

E ai, a culpa é de quem? Difícil saber. Mas, prender dois integrantes da banda? Não acho que sejam eles os culpados.

Enfim, que a justiça seja feita, e que os devidos culpados, se é que exisstem (ou será que foram só conjuntos de erros sucessivos?), recebam suas devidas punições (se é que existe punição maior do que saber da morte de mais de 230 universitários).

Aqui está a nota de esclarecimento da boate Kiss:


E pra terminar, um texto incrível, que a Fátima Bernardes interpretou hoje no programa dela. O texto é de Fabrício Carpinejar.

"Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.


A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido."     Julia xx